7 de mar. de 2012

Pipoca de Cinema

Certo fim de semana resolvi que não ia passar o sábado inteiro sozinho dentro do meu apartamento. Resolvi que ia ficar sozinho, dentro de um cinema lotado.

Conferi no site os filmes que estavam passando; um filme qualquer me chamou a atenção e o horário estava ótimo. Arrumei-me (lê-se: coloquei a primeira camiseta que vi pela frente e um tênis que estava jogado em um canto) e fui até a parada aguardar o ônibus. Não lembro se aguardei 15 minutos ou 3 horas, mas pareceu um longo tempo - para entrar em um ônibus lotado, em um dia quente.

Ah, bela sensação de um ar condicionado de shopping. Encaminho-me ao cinema e... fila. Estar sozinho na hora de comprar um ingresso, em uma fila cheia de grupos de amigos e casais não é a melhor das situações. Senti-me sendo analisado e julgado. Julgado e multado... poia que valor absurdo o do ingresso!

E é claro, ir sozinho ao cinema e não consumir uma bela e gordurosa pipoca seria uma tortura. E... fila. Novamente. Ah, o paraíso do colesterol: chocolates, pipoca, refrigerante, cachorro-quente... acho que só o cheiro já me engordou. Mas que belo perfume; só o cheiro já me convence a abrir a carteira e pedir: "Um de cada...". Mas, obviamente, o salário é menor do que a vontade de comer. "Pipoca Pequena e Guaraná 300ml. Favor". Fila errada... fui alertado. Nova fila... e tenho quase certeza inabsoluta de que fizeram isto para dar mais uma chance para cheiro-de-pipoca-de-cinema me convencer a gastar mais. Mas sou forte e valente e tenho pouco dinheiro. "Pipoca Pequena e Guaraná 300ml. Favor". "Se o senhor pegar a pipoca média, e refrigerante 500ml, o senhor ganha uma balinha" - disse a atendente. Ou algo assim. Não sei que super poder de convencimento tem estas pessoas... mas sem notar eu estava carregando a dita pipoca média e refri 500ml. Cálculos mentais...


Mas... eu mereço isto. Estaria em casa sozinho se não estivesse aqui, e sem pipoca! Sigo no trajeto das salas, e ... fila. Após um longo tempo olhando a pipoca e me segurando para não consumi-la, entrego o ticket ao rapaz, que o confere com um BIP no aparelho - isto depois da trigésima-nona tentativa, claro. Entro na sala, e busco um lugar, mais ou menos exatamente no centro do cinema, nem mais acima e nem mais abaixo. Algo georeferenciado mentalmente. Recebo novos olhares-de-canto-do-olho de casais. Acreditem, para ir ao cinema sozinho, você precisa ter uma boa auto-confiança.

Luzes ainda acesas, crianças gritando, pessoas indecisas de onde sentar. E a pipoca me olhando. Como uma (UMA) para acalmá-la. A pipoca já está esfriando... como outra para aproveitar o tempo vago e... quando vejo já comi meio pacote! Discuto mentalmente comigo mesmo, e decido por votação - com vitória unânime de 1 voto - que deixarei o resto para quando começar o filme.

Enfim as luzes reduzem, inicia uma música me dizendo que posso ficar bem tranquilo se começar a pegar fogo no cinema, e que não devo fumar lá dentro, e coisas do gênero. O som que se ouve no entorno é de pessoas aliviadas por poder começar a comer suas pipocas sem a pressão da sociedade. Trailler, trailler, propaganda, trailler. Criança chorando, algum idiota mandando mensagens no celular ali embaixo, casalzinho praticanto atos libidinoso lá atrás.

Mesmo no escuro sei que estou sendo observado, algo entre "A sua companhia ainda não chegou?" e "Sério que você veio sozinho ao cinema?!". Vontade de gritar: "Sim, eu tenho namorada, ela tá viajando, e eu queria muito ver este filme". Mas fico quietinho, comendo minha pipoca. 

E o filme por fim se inicia, belas cenas, nomes do diretor, produtores, câmeras, faxineira do estúdio, estagiários, etc. A pipoca já acabou agora, e o refrigerante está na metade - mas já me deixou à fim de ir ao banheiro. Mas valeu a pena toda esta confusão, vai ser um filme ótimo, e... opa... peraê... Ow, M*rd*... comprei o ingresso do filme DUBLADO!!! Nãooo...

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