"Libertem as proles" - gritavam os manifestantes em mais um protesto contra o consumo de carne humana, em frente ao maior matadouro do estado.
Protestos do gênero já haviam se tornado comuns; ocorrendo desde o início da produção, em um passado nem tão distante. "Libertem as proles - são humanos como nós" - gritavam alguns manifestantes. "As proles também têm sentimentos" - berravam outros.
Criados desde o nascimento (nos chamados "berçários"), as proles de modo algum eram vistas como "humanos" pelas massas. Não falavam, não se vestiam, nem nada do gênero.
"É necessário! O mundo não sobreviveria sem as proles atualmente" - afirmavam os produtores. Nada se perdia neste negócio; as peles, cabelos e até o esterco viravam produtos. Era definitivamente um lucrativo sistema. "Nascem para isto" - ressaltavam os consumidores.
Para o povo em geral esta produção era sequer estranhada. Nasceram e cresceram comendo carne humana; nem contestavam os porquês. Este ingrediente fazia parte da dieta geral, estando presente em diversas receitas e modos de preparos.
"Não somos animais ou coisa do gênero para consumir mato ou carne de bicho" - diziam exaltados os carnívoros frente aos argumentos dos ativistas.
As autoridades apenas controlavam os escassos manifestantes no local. Aos poucos o protesto se dissipava. Em breve ocorreria novamente - sem causar impactos na produção.
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