9 de mai. de 2012

Laranjas

   Depois de comerem em silêncio, sem pressa, com o sol já quase sumindo no horizonte, os dois homens saíram para a varanda da casa.
   - "Pega uma laranja pro Vô, Neto! – disse o velho tropeiro, já sentando na cadeira de balanço e acendendo o lampião."
   Quando Neto voltou da árvore que ficava ao lado da casa, com duas laranjas nas mãos, o avô lhe falou com um ar de filósofo e um sorriso no rosto:
   - "Sabes, Neto... A vida é que nem uma laranja no alto de uma árvore... – fez uma pequena pausa – de longe, quando tu vê a laranja, ela parece grande, bonita, lustrosa. Daí tu faz um esforço tremendo pra pegar ela, e quando estás com ela na mão, tu vê que ela está enferrujada e nem era tão bonita. E tinha uma mais bonita que tava ao alcance, sem esforço!"

   Neto olhou para as laranjas, olhou para o avô e disse:
   - Pow, vô. Tu podia ter me dito isto antes de eu subir no alto da árvore, né!?

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trecho adaptado, do livro:
'Chimia de Abóbora', de L.A. Kapletto (este que vos escreve!)
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