Após o livro de Paulo Leminski chegar no topo da lista dos mais vendidos, parece que a poesia e os poemas chegaram juntos no gosto popular - ou, ao menos, na moda (a transposição representativa visual generalizada de uma população... ou seja, se não gostam, pelo menos representam... fingem).
É visível no Facebook a proliferação de "tirinhas" do tipo: "Agora um poema...", seguido de uma rima qualquer ou sem rima mesmo para tentar ser engraçado. O mesmo que seguiu-se a fenômeno da "Clarice Lispectorização" nas redes sociais, esta que saturou a paciência de leitores e não-leitores em meses passados.
A dúvida que fica é: Quem veio primeiro, a preferência ou as vendas? A mídia e empresas da área já se aproveitam do fato e não é à toa que Paulo Leminski chegou ao topo das vendas - o que certamente não ocorre sem marketing! E o mesmo com qualquer outro livro... é apenas mais um produto de vendas para várias empresas e lojas. Fenômenos de vendas ("bestsellers") muitas vezes são apenas a resposta de muita propaganda e marketing sobre determinados autores e/ou livros, o que é claramente visto em vários casos onde os números de vendas não acompanham uma opinião positiva de seus leitores. Esta prévia seleção de "mais vendidos" que ocorre em listagens por revistas e jornais é praticamente uma imposição sobre o que as pessoas deveriam ler, ou seja, a citada "moda". Um certo alguém lista o que é mais vendido e acaba estimulando as vendas sobre estes próprios. "Quem lê o que todos lêem, só pensa o que todos pensam", disse Haruki Murakami... um autor japonês influenciado pela cultura ocidental, que ao mesmo tempo poderia ser um exemplo da questão de moda e preferências na literatura mundial.
Que a poesia estava em baixa não é novidade, que o digam os poetas. A própria poesia é muitas vezes considerada uma arte em separado, uma subdivisão à parte; há editoras específicas para isto, outras nem aceitam os poetas e escritores de auto-ajuda. Nas próprias livrarias a área de poesia não está tão à vista. Pensando bem, a poesia parece que sofre um certo bulling do resto da literatura. Os leitores de poesia são limitados, reduzem-se muitas vezes aos próprios poetas e ao público infantil, sempre mais aberto. Muitos leitores ficam envergonhados de afirmar que gostam de poesia, escritores mais ainda - poesia é arte de gaveta! A poesia de modo geral sempre esteve mais reclusa e engavetada - "Todo mundo é poeta", parafraseando Saramago. Em épocas passadas Mário Quintana era um poeta popular pelas ruas de Porto Alegre; era pop. Levou seu nome até a uma Casa de Cultura. Hoje são raros os poetas populares reconhecidos pelo grande público.
Sob tantas dúvidas e certezas, a questão é: esta popularização é um problema? E a resposta é óbvia: Não. A popularização da literatura e poesia certamente só agrega ao nível cultural de um povo. O problema é que a popularização massiva e repentina, praticamente importa (lê-se: moda), tem data de validade. Logo passa e será esquecida numa gaveta qualquer empoeirada. E seguirão outras tendências. Ficarão os poetas. "Eles passarão... Eu passarinho!"
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