6 de jun. de 2012

O ônibus

   Entrei no ônibus após muito esperar. Lotado, como previsto. Com grande esforço entro, e consigo me estabelecer no segundo degrau da escada. Ainda estava longe meu destino, mas estava ansioso por pelo menos passar pela roleta; e a cada parada, mais um vivente tentava estabelecer seu espaço, onde já não cabia mais ninguém. Lotação: 132%.
   Trancos e solavancos foram até que à roleta pude chegar; com o cobrador me encarando e pressionando-me a passar, fiz de tudo para avançar para a área além da catraca; porém nem um passo era possível além deste limite, a roleta sequer giraria. "Um passinho à frente, favor", gritava à cada parada o cobrador fanfarrão; a cada grito, dezenas de pessoas olhavam com ironia para aquele que tentava comandar, sentado em seu trono.
   Certo momento consegui passar da etapa 'roleta'. Não por vontade própria claro, mas pelo andar do grupo como um só. Estava agora naquele momento onde todos que permanecem em pé pedem piedade aos sentados... porém os sentados sofrem com o calor gerado pelos que permanecem em pé. Nenhum movimento é possível para a maior parte dos passageiros, mas foi possível para alguém ligar o som de um celular... com a pior música que você pode imaginar. Ah, DJ's de ônibus... vieram ao mundo para gerar caos; todos no entorno olham com irritação, mas o responsável pela "animação da festa" finge que nada vê. Olho para os lados procurando uma brecha para ir ao mais longe possível do som, porém outros pensaram o mesmo aparentemente, e em minha frente surge um lugar para sentar; novo dilema.
   Sentar no ônibus: a honra do proletariado! Música ruim enquanto sigo sentado: a penitência! Atrás de mim duas menininhas discutem a última festa, com detalhes que - sinceramente - eu preferia não ter escutado... perdi ainda mais minhas esperanças no futuro do país. Ao meu lado alguém dorme, meio roncando, meio babando. De pé, do outro lado, alguém que eu classificaria como 'um tipo estranho'. 
   Chega enfim o momento de alívio; a cada parada o número de pessoas no ônibus reduz... até ficar quase vazio. Sinal que se aproxima a minha parada. Apenas mais alguns solavancos e uma ou duas músicas do celular de alguém, e me levanto. Toco o sinal e na parada desço. Que alívio... ainda tenho umas 6 horas até pegar o ônibus de volta! 

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