14 de mar. de 2012

O tracinho piscante

   Chega um dia na vida de um escritor - ou mesmo de um aspirante à escritor - que em sua frente paira apenas um tracinho piscante.
   Isto claro nestas épocas modernas, onde escrevemos em papéis virtuais; mas devia ocorrer também com as (hoje em dia) velhas máquinas de escrever: de repente o som silenciava. O papel sob a caneta/lápis/pena aguardava, branco, vazio.
   Pisca, pisca, pisca. Digita-se, apagava-se. Pisca, pisca, pisca.
   A cabeça tenta, as mãos de aquecem, e o tracinho continua piscando. As idéias surgem, se montam como em um quebra cabeças de mais de mil peças... e somem em um segundo. Mas o tracinho segue piscando.

   O texto por fim é escrito, lido e relido. Uma sensação de déjà vu surge. De onde provém, não sei... mas tenho certeza que este texto já foi escrito... em outro lugar... por outro escritor.
   Tanto já foi escrito, produzido, gravado; a cada dia mais difícil escrever algo totalmente original. Aposto que Shakespeare não passou por este problema... se bem que Shakespeare também não devia ter nenhum tracinho piscante em sua frente.
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