28 de mar. de 2012

Diário de Mudanças [3]

   As roupas não estão empilhadas. As caixas não estão pelo chão. Mas a poeira já está pelo ar...
   O novo apartamento ainda vazio. Os sons ecoam nas paredes. Uma sensação mista e confusa sobre a amplitude de espaço; o apartamento ainda é definido apenas por metros quadrados.
   No piso, marcas da história; móveis fantasmas, machas pelo chão, madeira bronzeada. Resquícios de outras épocas, outras pessoas, outras memórias. Em breve outros móveis; mas mesmos objetos, fotos e decorações.
   Pela janela, novos horizontes; outra paisagem, outra visão, mesma cidade. Levará-se dias até se acostumar com o que vejo através do vidro, e até lá persistirá a sensação de uma nova vida. Outra vida, mas mesma pessoa.
   Por novas ruas passarei em minha rotina; novas visões terei, até pelas mesmas ruas que já passei. Outros vizinhos, mas mesmos problemas.
   Agora, ao menos, uns dois anos de uma mesma vida me esperam pela frente, no mesmo local; espero que não ocorram novas mudanças nesse meio tempo... ou... talvez... alguma pequena mudança venha para o bem: novas mudanças, nova vida.
.
--- 
Crônicas de Um / 1 Qualquer: crônicas,contos,textos

21 de mar. de 2012

Pelos corredores

Gosto de andar pelo meio de universidades.
Agora que já me formei, sinto falta da faculdade. Antigamente tinha pavor destes lugares. É só o tempo passar pra chegar a nostalgia. Andar por estes ambientes é relaxante para mim. Aquele clima feliz, sensação de segurança, alegria, jovialidade, etc. Ah, bons tempos. Saudades desse período da minha vida:

café por todo lado,
espirito jovial,
gramados,
café,
jovens,
mulheres bonitas,
pessoas bem vestidas,
... café,
maquinas de refrigerantes,
maquinas de café,
corredores...
...
..
.
..
...
provas,
correria,
trabalhos atrasados,
turistas de universidade,
patricinhas de Beverly Hills,
preços absurdos por uma comida sem graça,
carros de estudante que afirmam não ter dinheiro pra xerox.
e...

droga...
deixa eu pegar um café e sair logo daqui.
.
--- 
Crônicas de Um / 1 Qualquer: crônicas,contos,textos

14 de mar. de 2012

O tracinho piscante

   Chega um dia na vida de um escritor - ou mesmo de um aspirante à escritor - que em sua frente paira apenas um tracinho piscante.
   Isto claro nestas épocas modernas, onde escrevemos em papéis virtuais; mas devia ocorrer também com as (hoje em dia) velhas máquinas de escrever: de repente o som silenciava. O papel sob a caneta/lápis/pena aguardava, branco, vazio.
   Pisca, pisca, pisca. Digita-se, apagava-se. Pisca, pisca, pisca.
   A cabeça tenta, as mãos de aquecem, e o tracinho continua piscando. As idéias surgem, se montam como em um quebra cabeças de mais de mil peças... e somem em um segundo. Mas o tracinho segue piscando.

   O texto por fim é escrito, lido e relido. Uma sensação de déjà vu surge. De onde provém, não sei... mas tenho certeza que este texto já foi escrito... em outro lugar... por outro escritor.
   Tanto já foi escrito, produzido, gravado; a cada dia mais difícil escrever algo totalmente original. Aposto que Shakespeare não passou por este problema... se bem que Shakespeare também não devia ter nenhum tracinho piscante em sua frente.
.
--- 
Crônicas de Um / 1 Qualquer: crônicas,contos,textos

7 de mar. de 2012

Pipoca de Cinema

Certo fim de semana resolvi que não ia passar o sábado inteiro sozinho dentro do meu apartamento. Resolvi que ia ficar sozinho, dentro de um cinema lotado.

Conferi no site os filmes que estavam passando; um filme qualquer me chamou a atenção e o horário estava ótimo. Arrumei-me (lê-se: coloquei a primeira camiseta que vi pela frente e um tênis que estava jogado em um canto) e fui até a parada aguardar o ônibus. Não lembro se aguardei 15 minutos ou 3 horas, mas pareceu um longo tempo - para entrar em um ônibus lotado, em um dia quente.

Ah, bela sensação de um ar condicionado de shopping. Encaminho-me ao cinema e... fila. Estar sozinho na hora de comprar um ingresso, em uma fila cheia de grupos de amigos e casais não é a melhor das situações. Senti-me sendo analisado e julgado. Julgado e multado... poia que valor absurdo o do ingresso!

E é claro, ir sozinho ao cinema e não consumir uma bela e gordurosa pipoca seria uma tortura. E... fila. Novamente. Ah, o paraíso do colesterol: chocolates, pipoca, refrigerante, cachorro-quente... acho que só o cheiro já me engordou. Mas que belo perfume; só o cheiro já me convence a abrir a carteira e pedir: "Um de cada...". Mas, obviamente, o salário é menor do que a vontade de comer. "Pipoca Pequena e Guaraná 300ml. Favor". Fila errada... fui alertado. Nova fila... e tenho quase certeza inabsoluta de que fizeram isto para dar mais uma chance para cheiro-de-pipoca-de-cinema me convencer a gastar mais. Mas sou forte e valente e tenho pouco dinheiro. "Pipoca Pequena e Guaraná 300ml. Favor". "Se o senhor pegar a pipoca média, e refrigerante 500ml, o senhor ganha uma balinha" - disse a atendente. Ou algo assim. Não sei que super poder de convencimento tem estas pessoas... mas sem notar eu estava carregando a dita pipoca média e refri 500ml. Cálculos mentais...