27 de jun. de 2012

Barbados

Analisemos a barba.

A barba acompanha o homem desde sempre. Antes da roda, a barba estava lá!
O homem a carrega em sua face como forma de virilidade, proteção ou puro estilo.
Algumas mulheres à apresentam também; mas é assunto para outro momento.

A barba é um estilo de vida. Barba é arte, já dizia um barbado.

Tenho uma teoria extremamente revolucionária... e que até hoje ninguém compreendeu: eu realmente acredito que se as mulheres tivessem barba, a coisa seria ainda mais complexa! Não me compreendam mal, não fiquem imaginando as mulheres com barba, estou falando de uma hipótese filosófica. Digamos que homens e mulheres tivessem barba, e fosse extremamente comum - como cabelos... homens e mulheres têm cabelos.

Se mulheres tivessem barba, a coisa seria realmente complexa: estilos de corte, tamanhos, produtos, etc. Se as mulheres já perdem tempo entre maquiagem, cabelos e roupas... imagina ainda com barba. Além dos estilos... homens deixam cavanhaques, bigodes, barbas grandes, etc - mulheres teriam muito mais estilo e preocupações; combinar cabelo e barba seria circunstancial.

OK OK... sinceramente... na real essa minha teoria é só uma queixa contra as namoradas que reclamam das barbas dos homens; mandando-os aparar, cortar, tirar. Se elas tivessem barba, saberiam como é divertido!
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20 de jun. de 2012

Guardado-das-chuvas

Não chove à vários dias; estiagem.
Meu velho guarda-chuva permanece ali, encostado pelo canto da parede.
Se guarda-chuvas tiverem sentimentos, não sei se ficam tristes ou felizes estando totalmente secos.

Pelas ruas nem sinal dos bloqueadores pluviais verticais. Como se nunca tivessem existidos. Como se estivessem todos escondidos. Ninguém os recorda.

Uma nuvem encobre o céu; o sol se esconde. O tempo muda; um pingo pula lá de cima. Como um passe de mágica surgem guarda-chuvas de vários lugares. Vendedores gritam por eles, elevando-os ao alto. Todos relembram. Só os recordam em necessidade.

Corro pelas ruas, encharcando-me. Corro em direção de casa.
Abrirei a porta e pegarei o guarda-chuva seco. Darei um banho nele, para recordar os velhos tempos.
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13 de jun. de 2012

Cinefilia

   Amelie era uma cinéfila. Seu verdadeiro nome era Amanda, mas Amelie soava mais Hollywoodiano - pelo menos era o que "Amelie" pensava.
   Amelie sonhava que um dia uma coruja chegaria em sua casa, lhe convocando para Hogwarts; que um dia encontraria um bilhete dourado em uma barra de chocolates, lhe concedendo uma visita à Wonka; que um dia encontraria um anel que lhe daria poderes; que seguiria por um caminho de tijolos amarelos pela Terra de Oz; e por ai segue. Despedia-se de seus amigos dizendo: "Que a força esteja com você"; sempre que tinha um problema, sussurrava: "Houston, we have a problem". Quando surgia qualquer perigo gritava: "Run, Forest, Run". E quando algo dava errado batia as mãos dizendo: "Corta!".
   Amelie decorou praticamente todas as falas dos maiores clássicos do cinema mundial; e as usava em seu dia a dia. No início apenas uma brincadeira, mas com o tempo tornou-se um vício... incontrolável. Quando Amelie ganhou uma aliança de seu namorado, ficou em total silêncio olhando-a na palma de sua mão... e depois pronunciou, com muito sentimento: "My Precious..." - e tossiu de estranho modo algumas vezes (ato que repetia frequentemente). Quando Amelie fez uma proposta de trabalho à um funcionário, disse antes de qualquer coisa: "Eu vou lhe fazer uma proposta que você não poderá recusar". Quando Amelie iniciou um Clube do Livro em sua escola, começou a primeira reunião dizendo: "A primeira regra do Clube do Livro é 'nunca fale sobre o Clube do Livro', a segunda regra do Clube do Livro é 'nunca fale sobre o Clube do Livro'". Quando Amelie foi promovida no seu trabalho, respondeu para seu chefe: "Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades" - mas seu chefe sequer gostava de filmes, e ficou na dúvida se havia feito a coisa certa. E assim iniciou-se a decadência moral de Amelie.
   Amelie progressivamente começou a comunicar-se apenas em uma pontuação, termos e fonética típica dos diálogos de filmes. Também criou uma quase certeza de que toda sua vida era filmada, como em "O Show de Truman"; e por isto evitava fazer "certas coisas". Amelie tinha uma certeza inabsoluta de que em outra vida lutou na guerra, assim como foi prisioneira de campos de concentração e piloto de avião. Com o tempo Amelie não suportou mais ir à praia, com terror de "Tubarão"; sequer andar de qualquer transporte hidroviário, com fobia de se repetir um "Titanic"; nunca mais entrara em uma avião, com um trauma não vivido de "Naufrago"; e jamais tomava sequer uma rápida ducha em um banheiro com cortinas, com receio de "Psicose".
   Amelie certo dia notou que toda sua vida realmente era "cinematográfica"; mas contrariando o esperado, em vez de buscar ajuda médica, achou que faltava apenas um detalhe para sua história ficar completa: uma morte cinematográfica. E assim Amelie planejou cada detalhe de como iria morrer: data, local, situação, últimas palavras, vestido, iluminação, etc. Resumidamente: iria ser empurrada do alto de um prédio, durante uma discussão com um (fictício) amante, caindo em frente à uma cafeteria cheia de frequentadores. Contratou maquiadora, figurantes, entre outros. Com tudo pronto, Amelie preparou-se para aquele que seria o ponto máximo no filme de sua vida: o fim desta. Fez sua última refeição... e ao atravessar a rua, para subir ao prédio, morreu atropelada por um ônibus. Apenas uma pequena nota foi publicada em um jornal de baixa circulação.
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6 de jun. de 2012

O ônibus

   Entrei no ônibus após muito esperar. Lotado, como previsto. Com grande esforço entro, e consigo me estabelecer no segundo degrau da escada. Ainda estava longe meu destino, mas estava ansioso por pelo menos passar pela roleta; e a cada parada, mais um vivente tentava estabelecer seu espaço, onde já não cabia mais ninguém. Lotação: 132%.
   Trancos e solavancos foram até que à roleta pude chegar; com o cobrador me encarando e pressionando-me a passar, fiz de tudo para avançar para a área além da catraca; porém nem um passo era possível além deste limite, a roleta sequer giraria. "Um passinho à frente, favor", gritava à cada parada o cobrador fanfarrão; a cada grito, dezenas de pessoas olhavam com ironia para aquele que tentava comandar, sentado em seu trono.
   Certo momento consegui passar da etapa 'roleta'. Não por vontade própria claro, mas pelo andar do grupo como um só. Estava agora naquele momento onde todos que permanecem em pé pedem piedade aos sentados... porém os sentados sofrem com o calor gerado pelos que permanecem em pé. Nenhum movimento é possível para a maior parte dos passageiros, mas foi possível para alguém ligar o som de um celular... com a pior música que você pode imaginar. Ah, DJ's de ônibus... vieram ao mundo para gerar caos; todos no entorno olham com irritação, mas o responsável pela "animação da festa" finge que nada vê. Olho para os lados procurando uma brecha para ir ao mais longe possível do som, porém outros pensaram o mesmo aparentemente, e em minha frente surge um lugar para sentar; novo dilema.
   Sentar no ônibus: a honra do proletariado! Música ruim enquanto sigo sentado: a penitência! Atrás de mim duas menininhas discutem a última festa, com detalhes que - sinceramente - eu preferia não ter escutado... perdi ainda mais minhas esperanças no futuro do país. Ao meu lado alguém dorme, meio roncando, meio babando. De pé, do outro lado, alguém que eu classificaria como 'um tipo estranho'. 
   Chega enfim o momento de alívio; a cada parada o número de pessoas no ônibus reduz... até ficar quase vazio. Sinal que se aproxima a minha parada. Apenas mais alguns solavancos e uma ou duas músicas do celular de alguém, e me levanto. Toco o sinal e na parada desço. Que alívio... ainda tenho umas 6 horas até pegar o ônibus de volta! 

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