28 de nov. de 2012

Previsões no Velho Oeste

O telefone toca no meio da tarde; sábado, no meio do filme. Sem muita paciência Paulo atende, com o olho ainda no bandido do faroeste.
Uma musiquinha de qualidade discutível anuncia um telemarketing.
- Bom dia, com quem eu falo? - questiona uma voz de falso-aveludado do outro lado da linha.
- Boa tarde, pois já passou do meio dia. E por favor, resuma, pois o o mocinho e o bandido estão se aproximando do embate.
- Hã... (silêncio). É... bem... represento o Jornal Qualquer e gostaríamos de estar verificando se o senhor não gostaria de estar assinando nosso jornal?
Um silêncio de alguns segundos é apenas quebrado por sons de esporas e tiros.
- Não... não tenho interesse. Até ma...
- Mas senhor - segue a voz do outro lado da linha - posso estar lhe oferecendo uma ótima promoção e...
- Não...
- Mas senhor - insiste a voz - posso estar lhe dando um desconto promocional de...
- Não... não tenho interesse neste jornal no momento. Quem sabe daqui a algum tempo. Agradecido!
- Obrigado pelo seu tempo senhor, compreendo. Mas para o Jornal Qualquer retornar o contato, o senhor não poderia estar me passando uma previsão?
Relinchos, gritos indígenas, música de fundo e os suspiros da donzela.
- Olha... acho que amanhã chove!

Crônicas de Um / 1 Qualquer: crônicas,contos,textos

21 de nov. de 2012

10 microcontos de 1 Qualquer [3]

   Alguns microcontos (e outras frases...) "selecionadas aleatoriamente" em anotações perdidas nas gavetas de um escritor qualquer.
   Confesso... as melhores continuam (sabe-se lá até quando) guardadas para um futuro livro inédito! =/

  1. Após diversas entrevistas falhas, cortou fora uma mão para garantir uma vaga para deficientes.
  2. Como pulgões que se multiplicam até matar seu tomateiro.
  3. E quando estar fora de moda virou moda, o mundo entrou em colapso.
  4. Ignorante foi ao acreditar nas próprias promessas.
  5. Um ciclo vicioso; como louça e pia.
  6. Batendo as teclas da velha máquina de escrever, relembrou seus pais aprendendo a usar um computador.
  7. A obra era como a assimetria proposital dos cabelos de um jovem.
  8. Acordou no meio da noite, torcendo para que já fosse dia.
  9. Na insônia da noite lembrou-se do excesso de sono daquela manhã.
  10. Incessantemente pingava a torneira, na pia da cozinha.
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14 de nov. de 2012

RE-LEMBRANÇAS

     Edgar tinha uma vida normal. Até que um dia sofreu um acidente motociclístico e perdeu a memória. No início foram duros dias, sem saber ao certo quem era, o que gostava ou odiava. Aos poucos, com a ajuda de amigos - e da internet de modo geral -, foi re-descobrindo seus gostos e desgostos. Re-lembrou quais eram suas comidas preferidas e pode re-experimentá-las pela "primeira vez", mais uma vez; re-descobriu seus locais preferidos e pode re-visitá-los com o olhar de um turista - pela segunda primeira vez; re-soube quais eram seus filmes favoritos e viu estes por várias vezes, mais vezes.
     Aos poucos Edgar foi voltando a ter uma vida normal; normal até demais... quase sem graça, depois de tantas (re)descobertas. Cansado da mesmice de comuns descobrimentos, Edgar resolveu tentar a sorte e jogar sua motocicleta outra vez sobre um carro qualquer - para perder a memória de novo.
     Infelizmente Edgar não re-aprendeu a andar de moto; apenas subiu sobre ela, caiu e quebrou uma perna...

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Crônicas de Um / 1 Qualquer: crônicas,contos,textos

7 de nov. de 2012

10 microcontos de 1 Qualquer [2]

   Alguns microcontos (e outras frases...) "selecionadas aleatoriamente" em anotações perdidas nas gavetas de um escritor qualquer.
   Confesso... as melhores continuam guardadas para um futuro livro inédito! =/

  1. Negocio meu sono com duas xícaras de café.
  2. Ia mudar de vida; acabou apenas mudando de barba.
  3. D'outro lado tudo passa, para este passageiro.
  4. O futuro estava no passado.
  5. Teve dois dias para "não fazer nada". Não soube o que fazer. Nada fez.
  6. Aquele não foi o primeiro dia do resto de sua vida.
  7. Foi humor negro até acontecer.
  8. Não acreditava na sorte, mas não queria que ela o abandonasse.
  9. O ano passou rápido demais; até perder o emprego.
  10. Com certeza inabsoluta, garantiu.
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