30 de mai. de 2012

Sábios símios

Os seres humanos não nasceram... evoluíram. Até certo ponto, ao que parece.

Enquanto uma multidão luta e morre pelo desenvolvimento, uma multidão ainda maior não luta, não morre e assiste à tudo de longe. Enquanto cientistas desenvolvem tecnologias capazes de tudo; uma multidão ainda maior finge que nada os preocupa e colam seus olhos em uma tela luminosa; escutam apenas os microfones; leem apenas o que lhes interessa. E fecha os olhos, ouvidos e boca ao resto.

Macacos sábios! Ouvem apenas quando querem, falam apenas quando desejam, veem apenas o que convêm. Mas discutem sobre tudo. Preceitos falhos, certezas errôneas, crenças na contramão. Uma geração que fala em "amor ao próximo", mas finge não ver o que dorme ao chão. Amor aos animais, ódio aos humanos.

Vivas à um garoto com um cabelo chamativo e boa coordenação nas pernas; vivas à uma garota criada pela mídia, com falsa habilidade vocal. Vivas aos vídeos, viva à televisão, viva a "igonorância'". Sob cordas, dança uma população inteira. A cada dois anos, determinando o futuro de um país; baseado em promessas e egoísmo. Sob cordas, fronte a cruz. A opinião baseada no discurso de um papagaio.

A ignorância passada de geração em geração, como uma herança. Racismo, ódio... amor - amor pelo errado, amor pelo desnecessário. Enquanto a população de países desenvolvidos quase reduz, países de terceiro mundo ajudam à cada dia a superpopulação.

Livros, jornais, palavras; cada vez menos lidas... porém cada vez mais discutidas - pelos que não leram. Nem uma novidade nesta indignação que sinto. Salve Nietzsche, aleluia; se Deus morreu antes do século XIX, a esperança no futuro morreu muito antes. 

Dancemos sob as cordas.

Mas não me ouçam... não me leiam. 
Sou apenas mais um ignorante, dando sua opinião sobre o que mal entende!
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18 de mai. de 2012

Uma dissertação sobre a falta de inspiração [2/2]

[continuação...]

   Odranoel buscou em sua memória algum assunto que havia deixado cozinhando em sua cabeça. Decidiu pelo item 345P2S - código este, qual ele garantia que fazia parte de um estabelecido ordenamento de suas idéias mentais. Porém, o item 345P2S consistia da 'lua cheia'. Visto que ainda era dia, dificultaria uma escrita com mais emoção, pois não conseguiria olhar para sua branca e redonda musa inspiradora; outro fato que se somava, era que  nesta data a lua era minguante, e Odranoel não suportaria iniciar um texto que teria de aguardar até a lua certa para concluir. Assim, Odranoel decidiu, após cerca de 13 segundos, partir para outro assunto.

16 de mai. de 2012

Uma dissertação sobre a falta de inspiração [1/2]

   Odranoel - escritor, leitor e crítico-gastronômico-amador-de-fins-de-semana - escrevia diariamente em sua máquina Olivetti Letera 82, de cor verde. Seu processo criativo consistia em um projetado e elaborado 'improviso'.
   Odranoel acordava todas as manhãs às 07:37 em ponto, descia para as ruas onde comprava um café-para-viagem em uma cafeteria na esquina, e 3 pães-de-queijo com um vendedor ambulante à duas quadras do primeiro local. Odranoel nunca viajava com seu café; e a cafeteria até vendia pães-de-queijo, mas eram de um tamanho muito maior do que os vendidos pelo ambulante - e achava uma pouca vergonha apenas 1 pão-de-queijo custar o mesmo valor de 3 em outro local... independente de seus tamanhos. Após a compra do café e dos pães-de-queijo, Odranoel seguia até um terceiro local, uma praça, onde sentava-se sempre no mesmo banco, ao lado de um coqueiro, onde tomava (e comia!) seu café-da-manhã - em dias de chuva, Odranoel molhava-se.

9 de mai. de 2012

Laranjas

   Depois de comerem em silêncio, sem pressa, com o sol já quase sumindo no horizonte, os dois homens saíram para a varanda da casa.
   - "Pega uma laranja pro Vô, Neto! – disse o velho tropeiro, já sentando na cadeira de balanço e acendendo o lampião."
   Quando Neto voltou da árvore que ficava ao lado da casa, com duas laranjas nas mãos, o avô lhe falou com um ar de filósofo e um sorriso no rosto:
   - "Sabes, Neto... A vida é que nem uma laranja no alto de uma árvore... – fez uma pequena pausa – de longe, quando tu vê a laranja, ela parece grande, bonita, lustrosa. Daí tu faz um esforço tremendo pra pegar ela, e quando estás com ela na mão, tu vê que ela está enferrujada e nem era tão bonita. E tinha uma mais bonita que tava ao alcance, sem esforço!"

   Neto olhou para as laranjas, olhou para o avô e disse:
   - Pow, vô. Tu podia ter me dito isto antes de eu subir no alto da árvore, né!?

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trecho adaptado, do livro:
'Chimia de Abóbora', de L.A. Kapletto (este que vos escreve!)
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2 de mai. de 2012

Vou tentar ser engraçado

Dizem que as pessoas que são (ou tentam ser) engraçadas, visam compensar algum problema: "sobre-peso", "falta de beleza exterior", timidez, etc. 

   Na minha infância, entrando no colégio, tentei ser engraçado, fazendo piadinhas... visando conquistar novos amigos; não deu lá muito certo.
   Na minha pré-adolescência, escola nova, tentei ser engraçado, bancando o espertinho... visando compensar as espinhas e falta de beleza; não funcionou muito.
   Na minha adolescência, saindo em festas, tentei ser engraçado, dizendo frases prontas e cantadas manjadas... visando ganhar garotas; não fui nenhum conquistador.

Os anos passaram....

Tentei ser engraçado fazendo piadas em festas, tentei ser engraçado nas redes sociais, tentei ser engraçado de forma culta. E... agora estou aqui, tentando ser engraçadinho, escrevendo textos em meu blog.

...calma, logo desisto.

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