12 de dez. de 2012

Pérolas na janela

   O colar pairava no pescoço da dama. Não haviam motivos festivos para o uso de tais adornos, mas a beleza intrínseca deste despertava sentimentos inexpressivos. Sentada fronte à janela, a dama observava o passar da rua - vestida com um pijama... e um colar de pérolas.
   Pela rua passavam carros, cavalos, motocicletas; passavam pessoas, cachorros e o tempo - e era apenas o tempo que notava aquela dama. Fizesse o tempo chuva ou sol, frio ou calor, em frente à janela haveria um colar de pérolas.
   Pérolas sempre foram um sinal de luxo, levavam anos para desenvolver-se - custavam altos valores; e eram valorizados pela alta sociedade. Mas pela baixa luz do cômodo, apenas a dama enxergava a rua, e a rua não via o colar que pendia em seu pescoço.
   Há quem diga que a vida é feita para ser vivida, há quem diga que se nasce para morrer. Uns passam o tempo correndo, uns passam observando. Outras vestem colares e observam sentadas a rua e os corredores.
   Certa feita a noite chegou e vestida apenas com um pijama - e um colar de pérolas - aquela dama adormeceu em frente a janela, sentada em sua cadeira. O tempo passou e a manhã retornou. Por sorte o colar continuou em seu pescoço. Mas a dama jamais viu novamente aquela rua.

---
Conto escrito na Oficina de Alcy Cheiuche - na Feira do Livro de 2012, em POA/RS - no "logorrali", com as palavras: "pérolas", "motocicleta", "sociedade", "vida" e "sorte".
--- 
Crônicas de Um / 1 Qualquer: crônicas,contos,textos