22 de mai. de 2013

Notas de um vagão


   Estou com 25 anos; quase 26. Relativamente ainda longe dos 30, mas já sofrendo uma certa depressão adiantada.
   Estudei, me formei, arrumei alguns empreguinhos. Mas por aí ficou; nenhuma grande mudança ou notável conquista. Nada que poderia me gabar no futuro; nem os famosos 15 minutos de fama.
   Com menos idade que isto, muitos ganharam medalhas olímpicas, outros apareceram na mídia fazendo sucesso com bandas ou similaridades artísticas. Outros já haviam lançado livros que se tornaram clássicos. 
   Não tenho filhos, nem sei se os quero.

   Sobrevivo com uma espécie de emprego; uma bolsa de estudos que apenas me garante o pão de cada dia e um teto - não que precise de mais, é claro, mas certamente menos do que queria.
   Não fiz grandes viagens ou aventuras, estou longe do emprego dos sonhos - se é que o tenho em mente.
   Vivo a vida apenas sobrevivendo dia após dia.

   Li a algum tempo o livro do Kerouac, onde o jovem americano percorreu as estradas vivendo algumas loucuras juvenis. Eram outros tempos, hoje seria um "perigo". Tolkien lutou na Grande Guerra; saiu vivo e criou um mundo inteiro. Rowling diz que criou sua história em uma viagem de trem - estou em um agora, saindo de uma cidade da metrópole e indo de volta à capital.
   Minha maior mudança de vida foi uma mudança de cidade; penso diariamente se fiz a coisa certa sem chegar a uma conclusão. 
   E acho que pensaria diariamente se não o tivesse feito.

   No vagão que estou há apenas outras 9 pessoas; todos homens. Um policial escreve em uma apostila, outro rapaz mexe em um celular. Minha estação ainda está longe. 
   ...assim como a solução dos meus problemas.


--- 
Crônicas de Um / 1 Qualquer: crônicas,contos,textos