25 de set. de 2013

Café & Morte

O movimento estava tranquilo naquele dia. O cheiro de café comumente inundava o local. Lavava algumas xícaras e pensava alguma futilidade cotidiana.
Com um leve rangido a porta se abriu, entraram alguns clientes; sentaram em mesas. Fez sinal que já lhes atenderiam. Fechou a torneira, secou as mãos e pegou alguns cardápios para distribuir.
Quando se aproximava de uma das mesas teve um impacto ao de relance reconhecer em uma mesa seu antigo orientador.

Aquele homem era um dos tradicionais professores que têm por prazer moer o ego e os sentimentos de seus alunos. Era a personificação de todo o ódio e amargura que sentira na vida.
Entregou-lhe o cardápio tentando não se mostrar muito, em uma vã tentativa de que não fosse reconhecido. Porém...
- Ei... Eu conheço você! Sim, é você mesmo. Como vai?
Naquele momento ele era atendente de uma cafeteria. O que deveria entender com "como vai"?

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Olhava para o alto; era um dos maiores edificios da cidade. Se nada mais desse certo seria de lá que ele se jogaria.
Arrumara o emprego pra fugir de tudo que fizera em sua vida. Queria tentar recomeçar. Nova vida. Fingir ser outra pessoa. Na realidade nada dera certo e não havia mais o que fazer. E se agora tudo não se resolvesse...

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Quantas cafeterias possuiam um Doutor como atendente? Quantas pessoas com diploma de doutorado acabavam assim?

A fumaça da máquina subia enquanto mais um espresso era tirado. O barulho do leite sendo espumado era a música local.
Um machiatto, dois espressos e quatro pães de queijo. Dois capuccinos, um latte e duas tortas.
A simplicidade da matemática já não torrava seus neurônios.

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Olhava para cima, do outro lado da rua. Estava certo: se jogaria no alto do prédio. A hora era propicia, pouco movimento na rua e muito no prédio comercial. A subida seria fácil. A decida não sabia.
Com a certeza de sua decisão pôs o pé direito em direção a rua. Sem a preocupação do dilema de vida ou morte, simplesmente atravessou. Uma motocicleta cortava um carro e fazia uma ultrapassagem indevida.
Não seria hoje.

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No café tudo seguia igual.
Um submarino, dois ristrettos, 2 fatias de torta.
No hospital soro e uma parede verde-água ou seja lá qual for a denominação deste tom hospitalar.
Os bipes de um aparelho ressoavam.
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