23 de dez. de 2011

Um dono sem cão

A alguns dias atrás resolvi fazer um bem para o corpo que tanto carrega esta minha cabeça, e resolvi dar uma corrida. Tipo esportista de fim de semana...

Alonguei-me por alguns míseros segundos - apenas por descargo de consciência - e desci as escadas do apartamento. Abri o portão, respirei fundo e iniciei aquela que seria uma longa e memorável corrida - ao melhor estilo Forest Gump.

Corri nem 100 metros, quando um cão surgiu ao meu lado. Um belo cachorro; preto e branco, uma cara amigável; até lembrava um border collie. O cão me olhou, e ficou me seguindo. Não dei atenção, imaginei que logo surgiria seu dono; e continuei em meu trajeto muito bem não-planejado. E o cão me seguindo. Foi divertido, correndo com um cachorro, uma bela companhia. Foi legal... até que comecei a me sentir 'seguido'. Cansei. Tentei tocar o animal, mas ele sempre voltava a me seguir. Tentei xingá-lo, bater o pé no chão, correr eu de trás dele. Mas nada, o animal era teimoso. Após repetir os xingares e bateres-de-pé-no-chão por umas 10 vezes, desisti. Continuei correndo; pensei: uma hora ele cansa. Ah, doce ilusão. O animal tinha muito mais fôlego que eu.

Corri por uns 10km (tá, só foram uns 3km), e o bicho sempre me seguindo. Tentei correr mais rápido, mas ele era ainda mais que eu - em minha defesa, ele tinha a vantagem de 2 patas a mais. Dobrei esquinas, subi morros, pulei cercas, mas... ele era um 'cachorro'; fazia tudo isso melhor que eu. Entrei em uma universidade e comecei a correr entre os prédios, e... adivinha... ele atrás de mim. Os seguranças me olhando feio, mas o que eu ia dizer para eles? "Olha só, não é meu cachorro, tá só me seguindo! Já tentei de tudo".

Uma hora cansei (fisicamente). Parei, sentei em um banco, suando. Ele parou bem tranquilamente e ficou me olhando. Falei com ele; ele ficou quieto - nem se prestou a me responder. Andei um pouco, tentei distraí-lo e... saí correndo rapidamente. Ele era mais rápido e menos burro que eu.

Enfim, voltei a correr no trajeto inverso, para o caminho de casa. Já tinha desistido do animal e aceitava sua presença. Por fim cheguei ao local onde encontrei-o, e segui andando até o portão do prédio. Enquanto girava a chave, ele sentou e ficou me olhando, com a língua de fora e olhar de cachorro sem dono. Fui vencido e disse: "OK... entra logo maldito cão, vou te adotar". Passei a mão na cabeça dele, já pensando que nome poderia dar. Fiquei lá segurando o portão aberto esperando ele entrar, e ele apenas me olhando... de repente o animal olhou para o lado, e saiu correndo atrás de outro esportista-de-fim-de-semana que passou correndo pela rua.

Sinto saudades daquele cão. Foi meu por uns 3km.

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