26 de nov. de 2011

Chimia de Abóbora [1]

O sol iniciava seu trajeto para o interior da Terra. Em breve tempo a escuridão dominaria aqueles pagos.

- Neto! Monta teu tordilho e vamos se bandear pro pasto campear o gado. Se a noite cai, quem manda nestes pagos são os bichos.
E se foram dois peões, com cães ladeando os cavalos. Era uma estrada de chão batido, marcada pelas patas dos cavalos. Aberta e delineada pela andança do gado.
Ao longe, pastando e ruminando viam-se as reses. Com o aproximar dos cavalos o gado ia se levantado - conheciam o caminho da volta.
Com o gado seguindo a frente e os cães acompanhando, avô e neto seguiam os animais.
- Esses bichos seguem na nossa frente como um tropel de soldados... – disse o velho Sebastião ao neto – e tu sabia que uns anos atrás, por esta mesma estrada, passaram marchando os Farroupilhas? Se iam para a peleia.
- Eu sei Vô... – respondeu o neto – tu já me contou.


- Ah, piá! Não repares... a idade vai se chegando, a memória vai se indo.
O Velho Sebastião já beirava seus 70 anos. Calejado pelo tempo e pela lida do campo. Nasceu e cresceu naquela querência, e tentava agora passar seu conhecimento para o neto, para que ele seguisse seu trabalho. Ensinara o guri a montar quando ele não tinha nem cinco anos feitos.

Chegando próximo ao curral, Sebastião trotou seu cavalo, abrindo a porteira enquanto Neto ia tocando o gado. Após trancafiar os bichos, se foram para a cocheira guardar os cavalos - desencilharam e trancaram os animais.
Sebastião se orgulhava do neto... vendo o guri tocando o gado, encilhando e desencilhando o cavalo. Dava gosto de ver.
- Piá! Vamos tirar uma água do poço pra lavar as mãos... e te preparo um pão de milho com chimia e um leite. – disse o avô.
Depois de descer o balde de madeira, e subi-lo cheio de água, lavaram as mãos e entram na velha casa de madeira. Contava-se que a madeira utilizada naquela casa havia sido retirada de árvores da região, cortadas pelo pai de Sebastião... há muito, muito tempo atrás.
Sentados na mesa da cozinha, tiraram os chapéus e arregaçaram as mangas. Sebastião cortou uma grossa fatia de pão de forma, encheu um copo de leite, e perguntou para o jovem:
- Tu quer chimia de abóbora ou de uva guri?
Mas o avô sabia que o neto sempre pedia a de abóbora... fazia a pergunta apenas por rotina.

[...continua]

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trecho do livro:
'Chimia de Abóbora', de L.A. Kapletto (este que vos escreve!)